sexta-feira, novembro 18, 2005

Song # 10 - Dias de Água (para Nuno Rebelo)

Ensemble para 5 salas. 5 espaços com pouca luz, mobilados com arte musical futurista. Pedido de subsídio em tela com partitura. Numa das salas, 1 gira-discos antigo, com um dispositivo arcaico montado no prato, roda por cima de 2 guitarras portuguesas, fornecendo uma longa nuvem de som minimal. Na mesma sala, um retroprojector incide a sua luz sobre um recipiente quadrado com água e reflecte-o na parede usada. Na sala ao lado, 2 gira-discos antigos, com um dispositivo arcaico montado nos pratos, rodam por cima de 4 guitarras portuguesas, fornecendo uma longa nuvem de som minimal. As pessoas andam silenciosamente de um lado para o outro à espera que algo aconteça. Enquanto isso, andam silenciosamente de um lado para o outro. Algumas trazem o copo de vinho na mão que o bar lá em baixo vendeu. Outras o whisky malvado. Outras fumam um cigarro na eternidade da noite enquanto esperam pelo som do contrabaixo. De repente, numa das salas, ouve-se o silêncio de um sopro. De repente, outra vez. Depois, noutra sala, um diálogo de sopros ecoa pelos corpos que se movimentam silenciosamente. Os músicos também andam. Silenciosamente. De sala em sala. Buscando o clímax dos agudos. Depois, na sala dos 2 gira-discos antigos, o diálogo entre contrabaixo e guitarra acústica com cordas de aço começa. Jazz sci-fi. Acordes de filigrana acentes nas pernas que tremem. Do corpo do contrabaixo, gárgolas espreitam na direcção das pessoas que se continuam a movimentar silenciosamente. Movimentam-se silenciosamente ao encontro dos músicos que também se movem silenciosamente com os seus instrumentos debaixo do braço. Caem instrumentos de metal no chão. Propositadamente. Instala-se o caos dos diálogos entre os instrumentos. Gritam. Gritam. Caem. Morrem. SILÊNCIO. SILÊNCIO ABUNDANTE. Depois, um longo lamento de uma nota só nasce no centro da sala do retroprojector e envolve todas as demais. Todo o edifício. Todos nós.
(inspirado no concerto de Stefano Zorzanello + Ensemble Granular, dia 16 de Novembro de 2005, na Casa dos Dias da Água, em Lisboa «««««»»»»» Stefano Zorzanello - saxofones, ottavino; Bruno Parrinha - clarinetes; Nuno Rebelo - guitarra eléctrica; Ulrich Mitzlaff - violoncelo; Pedro Gonçalves - contrabaixo; Marco Franco - percussão)

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