Ben Chasny, mais conhecido pelo seu projecto Six Organs of Admittance, mas também colaborador regular nos Comets On Fire, Current 93, August Born e muitos outros, regressa mais uma vez a Portugal (vimo-lo há menos de um mês em palco com os Comets). Após os seu espectáculo no Lux, em Abril de 2005, é altura de rever um mestre da guitarra numa sala mais intimista e quente. Dia 17 Six Organs of Admittance na Galeria Zé dos Bois, em Lisboa, por volta das 23 horas.
Se a fórmula Six Organs of Admittance enquadrava o trabalho mais “folk oriented” de Ben Chasny, o que ouvimos no novo “The Sun Awakens” entra resolutamente no território percorrido pelo seu grupo psych-noise Comets on Fire, do qual, aliás, vem o baterista que o acompanha, Chris Corsano, músico que está a ganhar particular fama pelos lados do free jazz e que já tinha feito uma aparição no anterior “School of the Flower”. Uma guitarra eléctrica em distorção também entra em cena, dobrando a acústica que é a imagem de marca do “som” Six Organs, evidenciando-se muito particularmente nos “drones” de “Black Wall” e “Attar”, duas das mais intensas canções de sempre desta figura da “new weird America”, a segunda parecendo simplesmente a continuação da primeira. A “piéce de resistance” do álbum é, porém, o mantra “River of Transfiguration”, com os seus 24 minutos de experimentalismo rock e de modalismo inspirado na música indiana, em jeito de “freak out”. Talvez o mais ambicioso disco até à data do projecto, tem uma aura “dark” que não é propriamente habitual na música de Chasny, consequência certamente das suas colaborações com David Tibet nos Current 93. Esta ligação faz-nos pensar na que Tibet tem, por sua vez, com Stapleton, a alma dos Nurse With Wound, especializado na elaboração de paisagens sonoras, e o certo é que a peça de fundo deste CD se aproxima desse domínio. Mais adiante ficaremos a saber se é uma via a seguir...
As coordenadas deste novo álbum dos Six Organs of Admittance não deixam de ser curiosas: o mentor do projecto, Ben Chasny, foi muito evidentemente influenciado no seu manejo da guitarra acústica por John Fahey e Robbie Basho, mas aplica os conhecimentos bebidos na audição destes em situações que são mais pop do que alguma vez aquelas figuras das seis cordas alguma vez intencionaram; depois, acontece que o outro membro do duo é o baterista e percussionista Chris Corsano, de nome feito nos meios do free jazz mas que aqui está claramente a experimentar terreno novo. Resultado: um trabalho que transpira folk por todos os lados mas que os seus criadores se recusam a identificar como tal ("fuck folk, love music!", dizem eles), que só é rock momentaneamente, apesar da intenção filiatória dos dois músicos ("rock is the new folk", defendem também), e que evidencia o gosto de ambos pelo experimentalismo sem nunca se desviar do formato clássico da canção. A referência confessada do tema que dá nome ao disco é "Church of Anthrax" de John Cale e Terry Riley, o primeiro um autor de canções pop/rock de bom recorte que passou por La Monte Young e Velvet Underground e o outro um compositor que começou por ser radical e polémico para se tornar um arauto do "mainstream" contemporâneo, mas depressa se torna claro que os Gastr del Sol de David Grubbs e Jim O'Rourke se colocaram de permeio no seu imaginário musical. No meio de tantos "nem-nem", não sendo "nem uma coisa nem outra", de algo podemos estar certos: os Six Organs of Admittance não pertencem à "new weird America" de que falou a revista Wire. Uma música assim tão serena não podia mesmo ser considerada "esquisita".De registar que o último tema do disco se chama "Lisbon", resultado de uma passagem de Chasny pela capital portuguesa. Mais um músico estrangeiro que fica tomado de saudades pelas ruas do Bairro Alto...
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