terça-feira, outubro 31, 2006

Song # 66 - 17 Movimentos para Carlos Paredes


"O Porto exerceu sobre mim, sobre a minha maneira de tocar, uma profunda influência. Uma influência que se revelou, por exemplo, através dos cineclubes. Eu fui cine-clubista e houve um facto que me revelou vários aspectos da música ligada à imagem. Foi precisamente o facto de eu ter tido a honra de ter sido convidado por Manoel de Oliveira para lhe fazer a música de fundo de um documentário intitulado "Os Desenhos do Meu Irmão Júlio""
Assim começa "Movimentos Perpétuos – Cine-Tributo a Carlos Paredes", do realizador independente Edgar Pêra, que nos oferece, em 17 movimentos, imagens improvisadas sobre música de Carlos Paredes, uma homenagem muito pessoal ao homem que, nas palavras de José Carlos Vasconcelos, "exprime como ninguém uma certa alma portuguesa, em que tenha ao mesmo tempo o que há de saudade, de nostalgia na alma portuguesa, por isso passado, mas um passado vindo do futuro...", acrescentando ser este um dos "mistérios geniais da sua arte, da sua música".
O ponto de partida de todo o filme é um concerto de Carlos Paredes no Auditório Carlos Alberto, no Porto, sendo por isso a música e a voz do guitarrista uma constante ao longo de todo o filme. "Há um tipo de artista popular que desapareceu das cidades, mas que ainda se mantém nas aldeias, que é o narrador de histórias", diz-nos Paredes, que ao longo do filme narra também a sua história, confundindo-se esta com a história da guitarra portuguesa. Fala-nos do Porto, Coimbra e Lisboa, as suas 3 cidades, do pai e do avô, seus mestres na guitarra e é ao ouvi-lo que nos apercebemos da sua profunda humildade, aquela que quase pede perdão por existir, por tocar guitarra, por ter que afinar a guitarra para a poder tocar...
Edgar Pêra dá-nos tudo isto à sua maneira, à maneira indie, em Super8, estabelecendo um diálogo entre a guitarra de Paredes e sua câmara, que viajou de Cacilhas até Xangai, passando por Nova Iorque ou Paris, para nos dar imagens fragmentadas, manipuladas, cheias de cor, que servem na perfeição a música e a imagem de Carlos Paredes. Os testemunhos de José Carlos Vasconcelos, Rui Vieira Nery, Malangatana, José Jorge Letria, Paulo Rocha ou Avelino Tavares, ajudam a perceber a vida e a obra de Carlos Paredes, um homem que, segundo as palavras de Avelino Tavares, foi muito mal tratado por este país.
"Estar um homem destes, com este génio, a arquivar radiografias num hospital...". Portugal também anda há algum tempo a tratar muito mal Edgar Pêra.
"Movimentos Perpétuos", de Edgar Pêra, Portugal, 2006
in S_21 / Outubro 2006

Song # 65 - "Tensão Pós-Milenar"

A cada vez mais influente editora londrina Hyperdub, pertença do produtor Steve Goodman, mais conhecido pelo pseudónimo Kode9, conta agora com mais uma figura de peso, o também londrino Burial. De Burial que, a par com Kode9, traça as novas coordenadas do dubstep, género musical recente e emergente baseado nos princípios do dub, drum’n’bass ou uk garage, nada se sabe, já que o produtor prefere estar anonimamente presente, como que a dizer que o mais importante é a sua criação artística e nada mais.
Parece que Burial construiu "BURIAL", o disco, utilizando um antigo software de produção musical, coisa que com o avanço interminável da tecnologia parece desapropriado, mas o efeito conseguido é arrebatador. Razão tem a revista WIRE em afirmar ser este já um dos discos do ano. O que aqui ouvimos é predominantemente instrumental, cinemático, nostalgicamente denso, predominado pelo negro dos graves e pelo som característico do vinilo gasto, juntamente com a desaceleração de breakbeats, dando-nos uma constante sensação de tensão. Imaginamos uma cidade submersa num registo sci-fi.
Aqui o ruído seduz e serve de pano de fundo para o cadenciar do dub, descontínuo, libertário. Pelo "meio" temos Spaceape, o homem das palavras da Hyperdub. Potente voz grave que debita poesia urbana urgente. "We are hostile aliens..." Vítor Belanciano, do jornal Público, referiu-se a "BURIAL" como "o murmúrio mais profundo das grandes metrópoles, um disco feito de silêncios tumultuosos". Está tudo dito. Este é um dos álbuns do ano.
Burial, "BURIAL", Hyperdub, 2006
in S_21 / Outubro 2006

sexta-feira, outubro 20, 2006

quarta-feira, outubro 11, 2006

Song # 63 - WIRE com Rafael Toral

O último número da prestigiada WIRE traz nas suas páginas um apaixonante artigo sobre o ultimo disco de Rafael Toral, "Space", assim como uma admirável entrevista a este pioneiro da electrónica lusa, onde se descobrem novos e velhos olhares sobre a sua vida e obra. Um must.

terça-feira, outubro 10, 2006

Song # 62 - Há discos q me batem com(o) uma força estranha...





Todos diferentes, todos geniais!
Depois da "correcção" feita, aqui ficam 3 seminais de todo o tempo:
The House Of Love - The House Of Love - Fontana, 1990
Wire - Chairs Missing - Harvest, 1978
Bob Dylan - Blood On The Tracks - Columbia, 1975