Em dias cinzentos ou em dias de amarelo feliz, essa coisa da alma a que damos o nome de música está sempre presente. Gosto particularmente de me sentar na minha sala de 4 rodas, engatar a primeira e partir à descoberta de novos sons, enquanto a paisagem me abraça e se confunde, por vezes, com eles. E aqui entra em cena uma velha mania que me persegue ao longo dos tempos: a velhinha compilação. A receita consiste em fazer primeiro um bom refugado (os 2 primeiros temas são essenciais para o sucesso da dita cuja), para seguidamente se juntar os ingredientes a gosto do freguês. Podemos dividir estas lindas senhoras por editoras, estilo musical, bandas, etc, etc... O interessante no meio disto tudo, se não houver qualquer tipo de catalogação a acompanhar a compilação, é sermos surpreendidos com as nossas próprias escolhas. Mesmo que saibamos que colocámos lá determinada canção, depois de termos compilado umas tantas, esqueçemo-nos que lá se encontra, para depois nos surpreendermos com a chegada dela entrando em convulsões de exagerada alegria...E é bom sentir assim. É bom que certas canções nos dêem cabo da vida e outras nos façam sentir o quanto é bom andar por cá, para amar e ser amado, para simplesmente viver e sentirmo-nos bem com isso, porque é esse, no fundo, o sentido de toda a existência...
quarta-feira, julho 27, 2005
sexta-feira, julho 15, 2005
Song # 4 - Música Experimental
Fotografias de corpos, de partículas de corpos, histórias de ficção cientifica aos quadradinhos, ruídos de metropolitano, de milhares de pessoas a andarem ao mesmo tempo e a fazerem barulho ao mesmo tempo na estação do metropolitano, a quererem todas chegar mais depressa ao primeiro lugar de um dia igual aos outros...Tudo isto faz música. De tudo isto se faz música. A música devia fazer-se de tudo isto. Tudo isto serve para fazer música. A música que quisermos. Ondulações frenéticas de pixels sonoros esbarram-se contra a parede húmida de sémen. As violas eléctricas violam-se possessivamente. Os gatos, esses...bem, não são para aqui chamados. Nem o futebol sequer. Os meus ouvidos recebem com doçura sons manipulados geneticamente por um alien terrestre. Quase sufoco com este mel e não me apetece pensar, apenas continuar a escrever o que me vem à cabeça, o que este som me faz vir à cabeça, o que a cabeça quer que este som lhe traga. Tanto faz. Para mim tanto faz. NÃO ME IMPORTO NADA. Pelo menos por agora. Desço a escada cintilante da lua para perto do rio dourado com cheiro a urina e a pobreza. Reparo nos homens e mulheres que dormem na rua expostos nos seus pensamentos nus. Homens e mulheres de cara lavada e mãos sujas. Sem culpa. Ok, talvez alguns, mas desses há-de rezar alguma história. Os outros, os outros não têm sequer história. São maços de cigarros atirados à rua lamacenta da cidade infinita, onde mulheres finas dão o cu nas ruas que tornejam pela noite calada.Talvez devesse beber um café. Mas se beber não durmo. Talvez um copo de vinho. E um cigarro. É isso, um copo de vinho e um cigarro. Não, só um cigarro. Depois regressarei ao mundo das letras pretas com fundo amarelo. Quase como uma cena de um filme mudo a cores. Ainda não regressei. Acabei de ler o que tinha escrito. Velho hábito este. Mas continuo a ouvir a mesma música. Música feita por mim. Influenciada pela “Garagem Hermética de J. Cornelius” de Moebius e por uma fotografia do meu pénis. Chama-se “Corpo Nu”. Fala de Amor sem falar de nada. Fala de nada com Amor.
Agora sim, o cigarro. Mas antes = SAVE.
Agora sim, o cigarro. Mas antes = SAVE.
quarta-feira, julho 13, 2005
Song # 3 - Arthur Russell
Nestes últimos dias tenho andado a ouvir 2 discos fantásticos de Arthur Russell (obrigado Phoebus), “Calling Out Of Context” (2004, Audika) e “The World Of Arthur Russell” (2004, Soul Jazz Records), duas obras essenciais para ajudar a perceber o fenómeno da música de dança.
Russell, produtor, músico visionário, de escola clássica, colaborador, entre outros, de Allen Ginsberg e Philip Glass, cria batidos disco de morango para beber a qualquer hora… Quando puderem estabeleçam contacto com este senhor.
Song # 2 - 5 discos para levar de férias
1 – Hood “Outside Closer”, 2005 (Domino)
Reverse. Forward. Olhos de cristal. Pop electrónica com jazz quase imperceptível à mistura. Piano. Sintetizadores amigos do dia e da noite. Forward. Guitarras acústicas pop e voz aveludada. Encanto. Beat jazzy. “All you need is a place to stay without memories…you can hide from the world”. Está quase tudo ditto.
2 – Josh Rouse “Nashville”, 2005 (Rykodisc)
“Life is good, sometimes is bad”. Americana feita em Espanha. Guitarras folk e harmonica de bolso. Canções de amor não correspondido, mas sem dor de corno. Quase irónico. Imensamente pop. Belo até dizer não. Para ouvir à noite, antes do sono atravessar as paredes brancas do quarto. Se quiserem blues também os há. “What’s going on with you?”. Pronto. Tudo bem. Ah, e também há Smiths. Pois há.
3 – Kasabian “Kasabian”, 2005 (BMG/RCA)
Bateria desgovernada. Efeitos electrónicos à deriva. Guitarras wahwah com sabor a Madchester. Stone Roses à porrada com os Primal Scream. Happy Mondays do século XXI viciados em ritmos contagiantes. Canções cuidadosamente estudadas para nos entrarem bem fundo in the head. Hammond do inferno comandando a ressaca dos dias. E depois há Beach Boys e, não sei bem porquê (deve ser da linha de baixo) Air. “I just can´t stop loosing control”. Pois, pois.
4 – The Arcade Fire “Funeral”, 2004 (Merge)
Belo. Arrepiante. Pop de guitarras flutuantes. Vozes esganiçadas em competição com sentido de fair play. Bateria que entra compassada e se mistura com o que já havia: piano, guitarra eléctrica, voz e, parece-me, lá bem ao fundo, um bandolim. “Sometimes we remember bedrooms, and our parent’s bedrooms and the bedrooms of our friends...”. Que família esta. Que canções estas. Que sentimento(s) este(s). Escrito ninguém acredita.
5 – Gorillaz “Demon Days”, 2005 (Parlophone/EMI)
A macacada está de volta, agora mais sóbria, menos brincalhona, sem o pula pula por entre os ramos da árvore da evolução da espécie. Bem, também não é bem assim, ainda se permitem algumas brincadeiras, mas o caso agora é um pouco mais sério. “Are we the last living souls?”. Pianadas, hip hop, rock psicadélico de 70’s, british beat de 60’s, afro beat de brincar com coro juvenil e palminhas a acompanhar, electro pelos tomates e participantes de peso: De La Soul, Roots Manuva, Dennis Hopper, Martina Topley-Bird, Ike Turner ou o grande Shaun Ryder. Grande, portanto.
terça-feira, julho 12, 2005
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