segunda-feira, maio 19, 2008

Song # 197 - Bruno Lopes aka High Flying Bird | Entrevista


1 – Depois de Songs Of freedom, Autumn e Backyard Desert, Escritos é o teu último trabalho e o 1º totalmente cantado em português. Porquê a mudança de língua? Achas que assim podes chegar a + público?
Depois desses três trabalhos e das tours de promoção aos mesmos, houve a necessidade e a vontade de fazer algo diferente. Criei então um espectáculo chamado Guitarra e poesia, em que dava ênfase à poesia em português escrita por mim ao longo dos tempos.
Participei em algumas feiras do livro que correram muito bem, o que me levou a apresentar o conceito no circuito normal de concertos.
Eram temas que nunca tinham sido gravados e que provocaram uma reacção positiva junto de um público que estava a ouvir pela primeira estes poemas acústicos. Foram essas reacções que incentivaram a gravação dos Escritos.
A peça chave foi mesmo os poemas em português porque uma palavra cantada na nossa língua tem muito mais impacto e um peso maior no nosso consciente do que noutra língua qualquer.
Mas mesmo assim não sei te dizer se chego a um público mais vasto só pelo simples facto de cantar em português.
Sei é que talvez, a mensagem poética seja melhor compreendida sem ser, é claro, objectiva.
2 – Na capa de Escritos nota-se uma clara influência da literatura no teu trabalho. As capas dos livros de Walt Whitman ou Jack Kerouac deixam antever isso mesmo. Fala-nos 1 pouco disso. A literatura ocupa um lugar de destaque na tua produção musical?
Sim, definitivamente a literatura é a minha grande influência.
Venho de uma geração de busca literária em que me lembro de passar muitas tardes na biblioteca a descobrir o “ Refeição Nua “ do Burroughs, o “ Flores do Mal ” do Baudelaire, todos do Kerouac, entre outros.
Como queria dar ênfase à vertente poética deste trabalho resolvi colocar na capa alguns livros que me influenciaram ao longo da minha vida.
Penso que a música e a literatura sempre andaram de mãos dadas invadindo o campo de acção uma da outra, basta lembrar que Kerouac escrevia os seus textos como um ritmo jazzístico se tratasse ou a influência de Ginsberg e de outros poetas Beat na obra de Dylan, Joni mitchell, the Doors, Velvet Underground, etc.
3 – Em termos sonoros manténs-te fiel ao que vinhas fazendo, embora em Escritos se note uma produção sonora bem + apurada, muito pela presença do Paulo Miranda. Concordas? Como foi a experiência de trabalhar com este produtor?
Não necessariamente. Conheço o Paulo desde 1997 e é por demais conhecido o bom trabalho que ele tem feito.
Ao contrário do que ele fez no meu trabalho anterior (Backyard Desert) em que houve uma maior produção a nível de estúdio, este álbum Escritos foi o trabalho em que o Paulo teve menos intervenção.
Isto porque as canções foram todas gravadas num só take sem qualquer tipo de overdubs e o Paulo apenas me deu a garantia de que o resultado final soaria bem e para isso é preciso ter uma grande confiança num produtor, para se chegar ao estúdio e dizer que queria gravar o disco com se gravava nos anos 50 e 60, num só take, que as pessoas ao ouvirem o disco em casa tivessem a sensação que estava tocar para elas e ele perceber realmente o que eu estava a falar.
4 – Citas frequentemente Nick Drake e Bob Dylan como fontes de inspiração primordiais. O que sentes por estes 2 músicos e de que forma influenciam o teu trabalho?
Penso que estes dois são a antítese do outro.
Nick Drake tinha tudo para ser um sucesso a nível musical, tinha o visual, a voz, a destreza musical mas não tinha a dureza e a ironia do Dylan.
Ele é o perfeito exemplo de que o público por vezes prefere virar as costas à arte e dar mais valor ao mediatismo.
Dylan é simplesmente o melhor escritor de canções da sua geração, o primeiro a usar a poesia abstracta numa canção e ela passar na rádio mainstream.
Ele nunca percebeu o fascínio que as suas letras tinham sobre as pessoas e sempre recusou o tal apelido de, “A Voz De Uma Geração”.
O que não deixa de ser engraçado visto que ele em relação ao Drake não tinha o visual, nem a voz, nem a destreza musical para vencer mas é ele que fica como a figura ímpar no universo musical.
5 – Fala-nos um pouco da digressão de promoção a Escritos. É fácil dar concertos em Portugal?
É uma digressão que está ainda a decorrer e já vai com vinte concertos e muitos discos vendidos. Está a correr muito bem.
Não é fácil fazer digressões em Portugal, infelizmente o país é pequeno o que nos obriga a “escavar” por lugares para tocar e felizmente existe muitas bandas o que provoca talvez alguma competição para arranjar datas nesses locais para tocar. Mas com muito trabalho sempre vamos conseguindo trabalhar.
6 – O que te vai na alma neste momento?
A alma é sempre um local complicado de divagar e prefiro não o fazer porque ela é como o vento, por vezes forte e turbulento, por vezes calmo e meditativo.

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